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segunda-feira, 11 de junho de 2018

O TOSÃO DE OURO - Adaptação Nicéas Romeo Zanchett

                 

             
          Como Hele e Frixo, filhos de Néfele, fugiram da nativa beócia para a longínqua Colchídea, montados num ariete voador, de velocino de ouro. 
              Um mundo maravilhoso, era a Hélade: o alegre canto de seus regatos, o farfalhar de suas árvores, o frescor de seus bosques, onde ecoavam, para quem soubesse entendê-los, os rios das Ninfas. As cristas verdes-azuis das Oceaninas apareciam por entre o brilho das ressacas; nos montes, tinham assento os deuses imortais, poderosos dirigentes do Universo. E, frequentemente , os senhores do céu, ou as invisíveis criaturas do mar e da terra, misturavam-se aos homens, participando de sua vida, realizando prodígios ou evocando monstros fabulosos. Um aríete de velocino (tosão) de ouro, cintilante ao sol, qual uma enorme joia, voa sobre a imensidão do mar, que, daquelas alturas, parece confundir-se vertiginosamente com o céu. Traz, ele, na garupa, dois meninos, Frixo e Hele, filhos do rei Atamante e de Néfele, a deusa das nuvens. A mãe enviou-lhes o prodigioso animal, a fim de que os leve para um país distante, onde as perseguições de uma mulher perversa nunca possa alcançá-los. Mas , infelizmente, apenas Frixo chegou ao seu destino, porque Hele, vencida pela vertigem das alturas, precipitou-se nas águas do mar Egeu. 
                  O divino Aríete chega às remotas costas da Colchídea, sob a cordilheira do Cáucaso; lá, Frixo encontra abrigo e imola aos deuses o precioso animal, cujo velocino (pele de carneiro), pendurado a uma árvore, é posto sob a guarda de um enorme e feroz dragão. 
              Muitos anos depois dos fatos aqui narrados - e que são apenas o prólogo de nossas vicissitudes - um jovem pastor, de aspecto agradável e nobre, entrava na cidade de Iolco, na Tessália. Pelas ruas da cidade transita o jovem pastor, trazendo uma só sandália, pois a outra perdera vadeando um rio. Apesar de seu pobre traje, ele era filho do senhor daquela cidade, destronizado muito tempo antes, pelo irmão; criado às ocultas, entre as pastagens do Monte Pélion, o jovem Jasão (tal era o nome do estranho pastor) vinha agora à terra de seu pai, a fim de reivindicar seus direitos. Mas, embrenhando-se pelas ruas da cidade, viu-se alvo de extraordinária agitação por parte dos transeuntes. O povo logo reconhece: é o homem do Oráculo; "O homem do Oráculo!, gritavam de todos os lados. Realmente, o  usurpador Pélio ouvira o oráculo de Delfos dizer que ele seria deposto, por sua vez, por um homem de uma só  sandália; e Jasão, ao atravessar um rio, perdera, realmente, uma sandália e caminhava com um só pé descalço. 
                   Prevenido de sua chegada, Pélio mandou chamá-lo e perguntou-lhe bruscamente: 
                  - Que faria você se o homem destinado a matá-lo caísse em suas mão?
                  E este lhe respondeu prontamente: 
                  - Eu o mandaria à conquista do velocino de ouro.
                - Muito bem - disse Pélio, satisfeito, pois sabia que a tarefa era perigosíssima - então pode preparar-se para partir. 
                 Jasão, ávido de aventuras, sentiu-se feliz. Reuniu em torno de si os maiores heróis de Hélade - Hércules, o divino cantor Orfeu, Linceu, de olhar agudíssimo, Teseu, os dois filhos do vento Bóreas, os divinos gêmeos Castor e Pólux - e passou a construir um navio, com os abetos (árvoes nativas) do Pélion,  e lançou-o ao mar; ao barco, o mais lindo que jamais se tinha visto, ele deu o nome de Árgus, em homenagem ao seu idealizador. 
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                  Zarpando de Iolco, com vento propício, o navio, carregado de heróis, velejou rumo à Colchídea, onde chegou, após muitas peripécias. E ali, os Argonautas (Assim ficaram sendo chamados os aventureiros heróis) encontraram um auxílio valioso e inesperado de parte da filha do rei, Medéia, habilíssima fada. 
                 Com poucas palavras, de incompreensível significado,  a moça conseguiu adormecer o dragão que vigiava o precioso velocino de ouro; portanto, Jasão conseguiu apanhar a preciosa pele, truncou com um golpe de espada a cabeça do dragão e fugiu para seu barco, com a belíssima Medeia, que ele pretendia desposar. 
                A viagem de volta, sob o céu límpido do Mediterrâneo, foi rápida e tranquila; Pélio, quando viu surgir, no horizonte, a vela branca do Árgus, fugiu às pressas,  furioso, e abandonou o trono, que foi parar às mãos de seu legítimo herdeiro, o glorioso sobrinho. 
Adaptação: Nicéas Romeo Zanchett