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sexta-feira, 16 de novembro de 2018

ECO E NARCISO - Adaptação: Nicéas Romeo Zanchett

                      

                Eco foi a ninfa fundamental na vida de Narciso. Ela era a mais formosa tagarela do Olimpo; uma ninfa e jovem mulher que os gregos antigos consideravam uma divindade menor e que imaginavam vivesse entre as selvas das montanhas. 
                  Quando algum deus se sentia entediado com a vida monótona que levava, mandava chamar Eco para que lhe contasse todas as histórias que só ela era capaz de inventar de improviso ali mesmo, na hora. Até o próprio Júpiter disso se aproveitava, com frequência, pois, quando o rei dos deuses tencionava realizar alguma incursão amorosa pela terra, a fim de distrair-se dos aborrecimentos e das preocupações que lhe causavam os deuses e os homens, mandava que Eco distraísse sua ciumenta esposa Juno. Esta ninfa operava verdadeiros milagres; Juno gostava muito dela e sentia prazer em sua companhia. 
                  Certa vez Júpiter deu uma de suas escapadas, mas demorou demais na terra, e a pobre Eco acabou ficando com seu repertório esgotado, pois não sabia mais que história ou mexericos contar e, por isso, passou a proferir coisas e contos sem nexo. Diante disso, a deusa Juno zangou-se e infringiu-lhe um terrível castigo; desde aquele dia, nunca mais poderia ser a primeira a falar, e somente poderia responder quando fosse interrogada. Em seguida Juno agravou-lhe a penalidade; em suas respostas a ninfa Eco deveria limitar-se a repetir a última sílaba da última palavra de que a interpelasse. Desta vez o castigo foi realmente duro, especialmente para aquela tagarela. Mas não foi só isso; seu sofrimento aumentou muito quando ela se apaixonou pelo belo Narciso. 
           Do deus Cefiso e da ninfa Liríope nasceu Narciso. Ela foi mostrada ao pai por uma jubilosa e exuberante ninfa. Muitas lendas gregas tem por objetivo a mitológica figura desse jovem, ao qual a própria extraordinária beleza foi causa de morte.
                Num certo dia Cefiso e Liríope levaram seu filho para consultar o adivinho Tirésias, para saber como seria o futuro de seu menino Narciso. O menino era vivo e belíssimo. Segundo os costumes da época os pais poderiam saber sobre o futuro dos filhos, ou até alguma coisa sobre seu futuro. É natural que todos os pais desejem felicidade para os filhos. 
                  Apos examinar os voos dos pássaros e o tremular das folhas beijadas pela suave brisa, apresentou-lhes uma profecia bastante ambígua e nada promissora.
                   O adivinho falou: - Este menino só viverá até o dia que conhecer a si próprio, isto é, até ver a própria imagem.
                    Mesmo inconformados e sem entender direito aquela profecia, voltaram para casa, onde  esconderam todos os espelhos e procuraram se acostumar com a ideia de um futuro obscuro para seu filho.
                 Com o passar dos anos Narciso tornou-se um belíssimo rapaz e muitas ninfas se apaixonaram por ele, mas este só pensava em caça e nos lindos bosques daquele lugar; nem olhava para as belas e apaixonadas ninfas que o seguiam. Também a ninfa Eco se apaixonou perdidamente pelo belo rapaz, mas não teve melhor sorte do que as suas companheiras. Ele, porém nunca soube que era tão belo porque não havia espelho onde olhar-se. Transcorria seu tempo caçando pelos bosques de suas montanhas e, ao atingir a adolescência, começou a ver em torno de si verdadeiros enxames de ninfas e de formosas raparigas mortais. Entre essas ninfas apaixonadas por Narciso, estava também a tagarela Eco, que era talvez a mais assanhadinha; esta ninfa, porém, enfastiava-o embora não parecesse bonita e um pouco calada demais.; é que perto dele ela se exprimia de maneira tão estranha, que este não conseguia compreendê-la. Narciso começou a irritar-se seriamente e,  para livrar-se dela, passou a maltratá-la. A pobre Eco sofria muito, pois estava apaixonada e não podia afastar-se dele, embora já estivesse convencida de que o belo jovem não desejava sua presença. Com o passar dos dias Eco começou a chorar, ia definhando dia-a-dia e, a cada indelicadeza de Narciso, corria a ocultar-se aos pés de uma rocha; passava dias inteiros sem alimentar-se e já estava reduzida a pele e osso, enquanto sua voz continuava a repetir a última sílaba das palavras que ouvia, como se fosse um eco nas montanhas. Sua beleza murchou lentamente e dela nada mais restava a não ser os ossos e um tênue fio de voz. Os deuses, porém, condoídos, transformaram-na em uma rocha e, ainda hoje, todos quantos passam diante de uma rocha e pronunciam alguma palavra, ouvem um Eco, que lhes repete a última sílaba. Por causa disso, Nêmesis, a deusa da vingança, resolveu punir Narciso. Desceu ao Olimpo e, assumindo o aspecto de uma caçadora, aproximou-se de Narciso, propondo-lhe conduzi-lo a um lugar rico de caça. O belo jovem seguiu-a de boa vontade, e ela o levou para um lugar jamais visto antes; era uma belíssima clareira circundada de altas árvores, e em cujo centro se encontrava uma fonte de águas cristalinas e imóveis. Nêmesis levou-o para bem perto da orla da fonte e convidou-o a curvar-se para beber aquela cristalina água. E então Narciso viu a coisa mais bela da Natureza, seu próprio rosto. 
                  Curvado sobre a água, permaneceu longamente a contemplar sua própria imagem, enquanto Nêmesis lhe murmurava ao ouvido, com voz fria: 
                  - Permanecerá para sempre aqui, Narciso; permanecerá pela eternidade afora, a contemplar seu rosto, mais belo do que aquele de todas as ninfas e de todas as deusas. Nenhum coração de mulher sofrerá mais pela sua beleza, que você agora ficou conhecendo. Este era o significado da profecia de Tirésias!
                  E Narciso ali ficou, curvado sobre a água, incapaz de afastar-se da visão da própria imagem, para sempre.

Quando você dá um grito num vale cercado de natureza, ouve sua voz ecoando; é a ninfa Eco que ali está lhe respondendo. 
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Adaptação: Nicéas Romeo Zanchett 

segunda-feira, 11 de junho de 2018

O TOSÃO DE OURO - Adaptação Nicéas Romeo Zanchett

                 

             
          Como Hele e Frixo, filhos de Néfele, fugiram da nativa beócia para a longínqua Colchídea, montados num ariete voador, de velocino de ouro. 
              Um mundo maravilhoso, era a Hélade: o alegre canto de seus regatos, o farfalhar de suas árvores, o frescor de seus bosques, onde ecoavam, para quem soubesse entendê-los, os rios das Ninfas. As cristas verdes-azuis das Oceaninas apareciam por entre o brilho das ressacas; nos montes, tinham assento os deuses imortais, poderosos dirigentes do Universo. E, frequentemente , os senhores do céu, ou as invisíveis criaturas do mar e da terra, misturavam-se aos homens, participando de sua vida, realizando prodígios ou evocando monstros fabulosos. Um aríete de velocino (tosão) de ouro, cintilante ao sol, qual uma enorme joia, voa sobre a imensidão do mar, que, daquelas alturas, parece confundir-se vertiginosamente com o céu. Traz, ele, na garupa, dois meninos, Frixo e Hele, filhos do rei Atamante e de Néfele, a deusa das nuvens. A mãe enviou-lhes o prodigioso animal, a fim de que os leve para um país distante, onde as perseguições de uma mulher perversa nunca possa alcançá-los. Mas , infelizmente, apenas Frixo chegou ao seu destino, porque Hele, vencida pela vertigem das alturas, precipitou-se nas águas do mar Egeu. 
                  O divino Aríete chega às remotas costas da Colchídea, sob a cordilheira do Cáucaso; lá, Frixo encontra abrigo e imola aos deuses o precioso animal, cujo velocino (pele de carneiro), pendurado a uma árvore, é posto sob a guarda de um enorme e feroz dragão. 
              Muitos anos depois dos fatos aqui narrados - e que são apenas o prólogo de nossas vicissitudes - um jovem pastor, de aspecto agradável e nobre, entrava na cidade de Iolco, na Tessália. Pelas ruas da cidade transita o jovem pastor, trazendo uma só sandália, pois a outra perdera vadeando um rio. Apesar de seu pobre traje, ele era filho do senhor daquela cidade, destronizado muito tempo antes, pelo irmão; criado às ocultas, entre as pastagens do Monte Pélion, o jovem Jasão (tal era o nome do estranho pastor) vinha agora à terra de seu pai, a fim de reivindicar seus direitos. Mas, embrenhando-se pelas ruas da cidade, viu-se alvo de extraordinária agitação por parte dos transeuntes. O povo logo reconhece: é o homem do Oráculo; "O homem do Oráculo!, gritavam de todos os lados. Realmente, o  usurpador Pélio ouvira o oráculo de Delfos dizer que ele seria deposto, por sua vez, por um homem de uma só  sandália; e Jasão, ao atravessar um rio, perdera, realmente, uma sandália e caminhava com um só pé descalço. 
                   Prevenido de sua chegada, Pélio mandou chamá-lo e perguntou-lhe bruscamente: 
                  - Que faria você se o homem destinado a matá-lo caísse em suas mão?
                  E este lhe respondeu prontamente: 
                  - Eu o mandaria à conquista do velocino de ouro.
                - Muito bem - disse Pélio, satisfeito, pois sabia que a tarefa era perigosíssima - então pode preparar-se para partir. 
                 Jasão, ávido de aventuras, sentiu-se feliz. Reuniu em torno de si os maiores heróis de Hélade - Hércules, o divino cantor Orfeu, Linceu, de olhar agudíssimo, Teseu, os dois filhos do vento Bóreas, os divinos gêmeos Castor e Pólux - e passou a construir um navio, com os abetos (árvoes nativas) do Pélion,  e lançou-o ao mar; ao barco, o mais lindo que jamais se tinha visto, ele deu o nome de Árgus, em homenagem ao seu idealizador. 
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                  Zarpando de Iolco, com vento propício, o navio, carregado de heróis, velejou rumo à Colchídea, onde chegou, após muitas peripécias. E ali, os Argonautas (Assim ficaram sendo chamados os aventureiros heróis) encontraram um auxílio valioso e inesperado de parte da filha do rei, Medéia, habilíssima fada. 
                 Com poucas palavras, de incompreensível significado,  a moça conseguiu adormecer o dragão que vigiava o precioso velocino de ouro; portanto, Jasão conseguiu apanhar a preciosa pele, truncou com um golpe de espada a cabeça do dragão e fugiu para seu barco, com a belíssima Medeia, que ele pretendia desposar. 
                A viagem de volta, sob o céu límpido do Mediterrâneo, foi rápida e tranquila; Pélio, quando viu surgir, no horizonte, a vela branca do Árgus, fugiu às pressas,  furioso, e abandonou o trono, que foi parar às mãos de seu legítimo herdeiro, o glorioso sobrinho. 
Adaptação: Nicéas Romeo Zanchett